Avançar para o conteúdo principal

há sempre estrelas no céu a dourar o meu caminho

há muitas teorias sobre quem está no céu. mas as estrelas, pontificam lá de certeza.

podem lançar a hipótese de que quando as moléculas se desintegram a "alma", vamos lá, gira em espiral e se vai acomodar no céu. contem de geração em geração que um senhor de barbas lá mora e tudo comanda. imaginem deuses com oito braços, atentos e vigilantes noites fora, sobre o comum dos mortais. façam isso tudo sem se chatearem uns com os outros, de preferência.

eu cá não tenho grandes certezas sobre o que está no parágrafo acima. humildemente falta-me essa capacidade aparentemente tão universal de ter certezas sobre tanta coisa. tenho outra certeza, que me satisfaz plenamente (como era bonito ver isto escrito nos testes da primária... é quase poesia classificar um exame escrito com um advérbio de modo). a de que o céu estrelado me acalma, me preenche, me dá a paz que tantos procuram noutros amuletos ou imagens.

sentir que com a ponta dos meus dedos consigo dar piparotes em buracos negros, fingir que engulo uma supernova ou tão só regozijar-me com pedaços de matéria de ex-futura-vida a entrar atmosfera fora, enquanto nos dão a ideia de que isso dá direito a um desejo. eu peço um desejo a essa estrela cadente. que não deixe morrer as outras. que continuem a brincar às formas. o homem tem de se divertir a imaginar leões, w's, ursas, ursos e coisas que tais no céu da noite.

como eu adoro estrelas. nascidas do caos, nascidas do tudo e nascidas do nada. uma brinca durante o dia e depois repousa durante a noite. tirou o bilhete errado, o sol. anda sempre ao contrário. tem raça de guarda-nocturno. quando desce o pano da sua cena, ele sai. levanta-se o pano de novo e entra toda a sua família. quando esta se cansa de tanto teatro invertem os papéis. e assim continuam, a fingir que são um ciclo ordenado e infalível, rindo-se de quem acredita que isso é verdade.

o caos. ah, o caos!

Comentários

Mariana Neves disse…
"a de que o céu estrelado me acalma, me preenche, me dá a paz que tantos procuram noutros amuletos ou imagens." somos dois.
antes ia todos os dias, agora é mais de lés a lés, mas antes de me deitar costumava ir lá fora ao jardim ou então simplesmente à janela e contava as estrelas, depois fingia que eram "mimos" que me faltam dar a quem partiu sem despedida, ou quem se encontra longe. As adoráveis estrelas, têm destas coisas :)

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga...

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap...

Sliding Doors

Assim que abriu a porta sentiu o cheiro do perfume dela. As moléculas atravessavam todos os recantos da sala, saltavam do pescoço dela, atravessavam as partículas feitas do mesmo pó que as estrelas, para se irem alojar nos sensores olfactivos do seu nariz, refinados durante anos para saber distinguir o agradável do nauseabundo, bem como tudo o que está pelo caminho. Os cabelos dela brilhavam como se tivessem sido tocados pelo Rei Midas. Deslizavam pelas costas, lembrando-lhe a cor com que fica a encosta inclinada de uma montanha naquele lusco-fusco que se precipita ao pôr do sol. O nariz dela tinha as proporções perfeitas de uma rainha do século XVIII e era empinado o suficiente para lhe dar o ar de quem sabe por onde vai. Os seus olhos estavam, com certeza, nos lugares cimeiros da lista dos olhos mais bonitos do mundo. Tinham tanta vida, pensou ele, eram da cor que resultaria do acasalamento do azul turquesa com aquele verde dos lagos da Croácia. ...