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as fábricas das coisas

lembro-me como se fosse hoje de como os meus olhos irradiavam alegria quando, sendo ainda uma amostra de gente, estava a ler um livro do petzi em que ele vai ao pólo norte e descobre que as auroras boreais são feitas rodando uma manivela. claro que é muito difícil chegar à sala onde são feitas as auroras boreais. está no topo de uma montanha, fechada ainda a mais do que sete chaves, e guardada pelo seu proprietário privado, o rei do pólo norte.

se é verdade que o tempo passou por mim, não passou contudo pelos meus olhos, que continuam a irradiar da mesma forma quando trabalham em solidariedade com a minha imaginação e se perdem de mãos dadas na construção de argumentos que expliquem o porquê das coisas.

nunca fui de engolir a teoria de que as coisas são o que são porque sim. 'porque sim' nunca me pareceu resposta para nada. se tudo fosse 'porque sim' não havia lugar à imaginação. era uma espécie de sanatório privado da mente, impartilhável de tão louco. procurar as rodas dentadas que estão por trás do mostrador (lindo) do relógio é um modo de vida. não tenho descanso enquanto não encontrar mais e mais fábricas das coisas.

quero ver o igloo gigante onde produzem todo o gelo do mundo. a casa das máquinas que está na base do vulcão, de onde todos os dias saem trabalhadores furibundos, por volta das seis da tarde, com o permanente queixume de 'está lá um calor que não se pode'. de certeza que há fábricas para isto tudo. cheias de operários. mais não seja operários da mente. a navegar em neurónios em vez de vagões. a alimentar-se de electricidade em vez de sandes de carne assada.

podia parar para pensar se a fantasia faz bem. mas, além de não conseguir parar, tenho isso como um dado mais do que adquirido. as auroras vão continuar a encher o céu da noite de cor, sorrindo para a lava que os vulcões expelem e para o gelo que brinca aos pontos de solidificação. mais dia menos dia chegamos às rodas dentadas. até lá, aproveitemos para viver felizes no mostrador.

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