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falavam na rádio

ouvia-os ao longe.

os mercados estavam numa espécie de pânico. tinha caído um por cento de qualquer coisa que não percebi bem o quê. magotes de gente enchia ruas e queimava lojas e carros. almas perdiam-se em sobressalto e os meus olhos não ouviam bem a explicação.

fechei-os e deixei-me voar. seguir aquela linha branca que o avião deixa no céu e mergulhar na natureza de blocos de nuvens em explosão feroz. lembro-me que nadei com os raios e me esfoliei com blocos de gelo enquanto via os unicórnios em modo selvagem a correr à minha volta. assentei o tapete onde repousava e sorri para a lua, que se mostrava lá para cima dos choques de neutrões com beijos de lábios fechados.

por fim saltei para o abismo do cheiro a canela que a terra tem quando chove, e corri pelo meio da tempestade até perder a noção do molhado. quando os pensamentos estão quentes como uma baguete acabada de sair do forno não há chuva ou gelo que os consiga infectar de mal-estar. dei mais uma ou duas voltas pelas redondezas, com dois linces por uma trela e um leopardo à solta, resmungando com a falta de bifes do lombo na sua dieta actual.

lá ao fundo caía mais um por cento. mas eu continuava deliciado com as manchas do leopardo e os seus sons de amuo.

no fundo recuso-me a aceitar os limites que me vendem de que há uma linha entre o sonho e a realidade. essa linha? cada um que a trace.

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