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a vida e os buracos de várias cores

a minha paixão por astronomia desde tenra idade (tão tenra como uma posta mirandesa) levou-me a desde muito cedo achar apaixonante o conceito tenebroso do buraco negro, que suga toda a matéria e de onde nada pode escapar. mas mais fascinante ainda a deliciosa possiblidade dos buracos brancos, hipotéticos espelhos dos buracos negros, lugares onde nenhuma matéria pode entrar mas de onde toda a matéria pode sair. a teoria diz ainda que isto possibilita de facto que alguém entre num buraco negro e seja transportado para um buraco branco, aleatório, noutro ponto qualquer do universo instantaneamente. e estamos a falar em viajar para outro lugar e/ou tempo. os velhos do restelo, combatentes do sonho, mesmo que astrofísicos, respondem a isto com “sim, mas a desintegração das moléculas durante a viagem jamais permitiria que um ser vivo sobrevivesse a esta forma de teletransporte”.

deve ser gente muito enfadonha, esta. que não acredita em viagens no tempo e no espaço. os antepassados destes amigos de certeza que eram gente que defendia que isso de fazer pedras circulares nunca ia dar em nada. que pôr amontoados de madeira no mar com umas velas agarradas ia correr mal na certa. e que metal a descolar em direcção ao sol só se fosse para ter uma morte garantida em regime de catapulta.

felizmente os sonhadores vencem tudo isto. conseguem perceber que há espaço para um parque de campismo na superfície do sol. que o terreno de marte é extremamente jeitoso para fazer caminhadas ao fim da tarde, estando mesmo a jeito para vêr o pôr da terra através do reflexo de sol. que os anéis de saturno são para ser aproveitados como montanha russa, em qualquer dia da semana, de qualquer dia do ano. ou que as planícies de saturno estão mesmo a pedir caipirinhas e partilha de carinhos nas horas de maior calor. que lá... são todas.

sobretudo sabem que, mais tarde ou mais cedo, vamos ganhar coragem e entrar num buraco negro. vamos sair muito muito muito longe de dentro de um qualquer buraco branco, com um sorriso não-desintegrado na cara e a dizer que aquela foi uma pequena viagem para o homem mas uma vertiginosa descoberta do universo para a humanidade.

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