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rodelas de gengibre com um toque de pó de estrelas

na fronteira do infinito não serve de nada ter visto ou passaporte. os guardas são outros. em vez de fardas vestem vestidos pretos, perigosamente decotados, e trocam botas engraxadas por saltos altos de cores garridas, que não são mais do que portais da extremidade da perfeita arquitectura que se segue.

por mais que esperem por carimbos eles não chegam sob a forma de tinta. imprimem-se através da pele, tatuando partes específicas do coração ou entranham-se em sabores frutados de línguas que brincam ao jogo da serpente manhosa. à volta há édens. daqueles que, em vez de macieiras e casais puros nus, têm serpentes já com anos e anos de maçãs comidas, preocupando-se com a dose de carvão que enche os fornos que adornam as paredes do éden, e não com a conversão dos inconversíveis.

vê-se uma luz que ninguém percebe bem se é clara ou escura, porque os olhos estão maioritariamente fechados. quem sabe ver sem ter de separar as pestanas, delicia-se a contemplar com as mãos, a decifrar com a face, a tirar texturas com joelhos. o sétimo sentido está sempre ao rubro junto à fronteira do infinito.

o barulho das luzes torna-se cada vez mais fugaz, entre o cheiro das especiarias que decora a pele molhada por uma calda que parece vir de uma lata qualquer comprada num canto de uma loja gourmet refundida atrás de um portão de ferro. guardada por gárgulas, também elas despidas, e com ar de quem ri como uma hiena. a hiena não sabe porque ri, dizem. provavelmente dizem mas não sabem.

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