Avançar para o conteúdo principal

rodelas de gengibre com um toque de pó de estrelas

na fronteira do infinito não serve de nada ter visto ou passaporte. os guardas são outros. em vez de fardas vestem vestidos pretos, perigosamente decotados, e trocam botas engraxadas por saltos altos de cores garridas, que não são mais do que portais da extremidade da perfeita arquitectura que se segue.

por mais que esperem por carimbos eles não chegam sob a forma de tinta. imprimem-se através da pele, tatuando partes específicas do coração ou entranham-se em sabores frutados de línguas que brincam ao jogo da serpente manhosa. à volta há édens. daqueles que, em vez de macieiras e casais puros nus, têm serpentes já com anos e anos de maçãs comidas, preocupando-se com a dose de carvão que enche os fornos que adornam as paredes do éden, e não com a conversão dos inconversíveis.

vê-se uma luz que ninguém percebe bem se é clara ou escura, porque os olhos estão maioritariamente fechados. quem sabe ver sem ter de separar as pestanas, delicia-se a contemplar com as mãos, a decifrar com a face, a tirar texturas com joelhos. o sétimo sentido está sempre ao rubro junto à fronteira do infinito.

o barulho das luzes torna-se cada vez mais fugaz, entre o cheiro das especiarias que decora a pele molhada por uma calda que parece vir de uma lata qualquer comprada num canto de uma loja gourmet refundida atrás de um portão de ferro. guardada por gárgulas, também elas despidas, e com ar de quem ri como uma hiena. a hiena não sabe porque ri, dizem. provavelmente dizem mas não sabem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap

Reset

00:00 Os números piscavam a vermelho no fundo escuro. O escuro era da noite por fora, por dentro a culpa não era da noite. Ou então era de noite também por dentro. Dentro da cabeça uma pulsação contínua, um incessante martelar, uma inequívoca prova de vida e um considerável incentivo à morte. O dia rodava dentro da caixa craniana a uma velocidade superior àquela com que camisolas, calças e roupa interior dançam dentro da máquina de lavar roupa. As ideias misturavam-se de tal modo que apenas se conseguia lembrar da receita de um bolo. As preocupações de ontem a fazer de farinha, o que de novo aconteceu nesse dia mascarado de fermento, todos os planos para amanhã e depois com cara de ovos acabados de deslizar casca fora. E a vida, essa batedeira eléctrica de último modelo, a tratar de misturar tudo com a pressa de quem tem fome e gulodice. Sorriu no escuro e sentiu felicidade por sentir os músculos da face a relaxar. Uma das melhores coisas que o sorriso tem é a capacidade de pôr as