Avançar para o conteúdo principal

sobre aquele sítio onde levam as pessoas a ver os aviões

o centro do mundo é bem capaz de estar geograficamente lá naquela zona meio esquisita cheia de níquel e coisas que tal. nunca ninguém lá foi, tirando o júlio verne em imaginação, mas a minha ideia é que o centro do mundo deve ser qualquer coisa assemelhada de uma pilha. é melhor nunca o deixarem destapado ao sol, porque eu já fiz isso com pilhas das outras e garanto-vos que é coisa que baba.

fora do geográfico, tenho a certeza que o centro do mundo está nos aeroportos. nos vários. é um centro descentrado que se descentra tão harmoniosamente que chega a parecer estar centrado.

nenhum outro lugar brinda de forma tão fugaz o cruzamento de gente que chega com gente que parte. nenhum outro lugar tem gente a chorar de alegria no andar de baixo enquanto outros choram de tristeza no lugar de cima. nenhum outro lugar representa tão bem este formigueiro arraçado de colmeia, onde os seres humanos brincam ao toca e foge, às verdades, às consequências, aos beijos de ocasião e à ocasião do beijo.

a vida de um aeroporto é como a vida de uma sopa cósmica. destrói-se e reconstrói-se a cada momento. explode e implode ao som de tons doces misturados com razrrrs de motores potentes que teimam em invadir o céu idos da terra e re-invadir a terra regressados do céu.

o caos organizado do aeroporto é tudo isso. e tão bom de observar como uma chuva de estrelas numa noite limpa de verão. ambos são espectáculos de migração. só as personagens é que diferem e o encenador acaba por ser/não ser (riscar o que não interessa) o mesmo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap

Reset

00:00 Os números piscavam a vermelho no fundo escuro. O escuro era da noite por fora, por dentro a culpa não era da noite. Ou então era de noite também por dentro. Dentro da cabeça uma pulsação contínua, um incessante martelar, uma inequívoca prova de vida e um considerável incentivo à morte. O dia rodava dentro da caixa craniana a uma velocidade superior àquela com que camisolas, calças e roupa interior dançam dentro da máquina de lavar roupa. As ideias misturavam-se de tal modo que apenas se conseguia lembrar da receita de um bolo. As preocupações de ontem a fazer de farinha, o que de novo aconteceu nesse dia mascarado de fermento, todos os planos para amanhã e depois com cara de ovos acabados de deslizar casca fora. E a vida, essa batedeira eléctrica de último modelo, a tratar de misturar tudo com a pressa de quem tem fome e gulodice. Sorriu no escuro e sentiu felicidade por sentir os músculos da face a relaxar. Uma das melhores coisas que o sorriso tem é a capacidade de pôr as