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o doce tango entre o hemisfério esquerdo e o direito

anos e anos de evolução do ser humano no planeta terra (boa, começo por cometer o triplo erro de cair na nossa típica fraqueza de necessitar da dimensão tempo, espaço e massa para não sentir a vertigem do desconhecido) levaram-nos a desenvolver aquilo que é geralmente considerado como o sistema nervoso mais diferenciado da escala animal. basicamente sabemos que temos uma linha de raciocínio (bom, talvez com excepção do futre nos finais de tarde de alguns dias) e achamos que a capacidade de pensar de modo complexo nos coloca no trono do reino animal. o leão bem pode achar que é o rei da selva, que o do planeta está há muito definido.

não sei há quanto tempo nos separámos realmente do macaco, e deixámos a nobre arte de grafitar paredes de cavernas de borla e por misticismo para a trocar pelo uso de pincéis, telas e casas de leilões que vivem da continuidade do que foram bois desenhados em grutas. se pego neste ponto sensível é porque o recurso à pretensa pre-história (pretensa porque já consegui viajar no tempo até à Idade Média, mas para trás disso ninguém vai porque como se sabe a portagem é para cima de cara) nos faz ver que o cérebro direito sempre esteve em evidência desde o início. ainda antes de pensar o suficiente para talhar pedras numa forma cilíndrica, e arraçar objectos de roda, já o homem exprimia a sua chico-espertice a desenhar, a criar armas para a caça ou a desenvolver esquemas de sobrevivência. se é verdade que já há algum cérebro esquerdo ao barulho (vulgo inteligência racional no seu sentido clássico) o comportamento tinha também muito de artista.

todos estes anos passados, mudados os pincéis ou os campos de caça, a epifania continua para mim a ser alcançada no momento em que conseguimos pôr os hemisférios esquerdo e direito a dançar uma espécie de tango perfeito, em que se seduzem mutuamente e em que aplicam, com a intensidade máxima que conseguem atingir, a sua capacidade de comportamento solidário. quando esse tango atinge o auge, conseguimos finalmente ver. nem precisamos bem dos sentidos todos. ou até temos mais do que aqueles que nos vendem que existem. o reflexo de um raio de sol num qualquer cristal de quartzo pode então parecer explicar-nos ao mesmo tempo a teoria da relatividade e o im blau. porque quem só se esforça por dominar uma das forças cai irremediavelmente no erro de não as deixar guiar a dança. e toda a gente sabe quão mal visto fica um mau dançarino.

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