Avançar para o conteúdo principal

Nas Maldivas

Quando o sol desperta nas Maldivas, já a vontade de arrancar para um novo dia crepita. Será do cheiro no ar, das resplandecentes paisagens? Talvez um pouco de tudo, mas gastar tempo a pensar fica para mais tarde! Agora há que desfrutar de um côco tão fresco como a manhã, e ao mesmo tempo rir de alguns profetas da desgraça, que falam de um mundo sem paraísos... Tão enganados que eles estão!
Abro a porta, e apesar de os olhos quererem fechar perante tamanha claridade, caminho pela areia e maravilho-me ao ver que a calma e a quietude reinam de uma forma quase perturbante. Sinto apenas uma ligeira brisa, que me traz notícias dos cheiros a maresia e não vejo ninguém. Até que lá ao fundo, avisto um homem, que com ar contemplativo espera que algo lhe morda o isco. Quando passo por ele, cumprimenta-me e oferece-me um dos seus troféus, guardados num pequeno cesto ao lado de onde está sentado. Digo que não, mas agradeço-lhe, devolvendo um sorriso bem merecido, face a tal cordialidade.

Um pouco mais adiante, cedo à tentação e molho os pés na água cristalina, e os pequenos peixes deliciam-se numa dança interminável em torno deste visitante. A temperatura da água é por si só convidativa, mas a tonalidade verde marinho, o brilho dos corais e o enquadramento da densa vegetação dão o mote final: com um mergulho decidido tudo se move em volta... Eu prório, os peixes, os grãos de areia milenares. E já nada me pode parar! Nadar aqui é um êxtase, um expoente máximo do prazer. Num instante, vou buscar o equipamento de snorkling para passar o resto da manhã a observar os mais variados e coloridos espécimes, com o seu tão engraçado aspecto de peixe com fato de mergulhador. Renitentemente, volto ao hotel para me deparar com um banquete de deuses: tudo o que ali está é um regalo para os olhos e para o palato.

A tarde começa com uma visita ao "spa", onde me aguarda, entre outras coisas, um deslumbrante banho de jasmim, que me põe nos píncaros da boa disposição. Logo após, já rejuvenescido, parto para uma tarde desportiva, com o ponto alto no passeio de kayak pelas águas do Índico. Enquanto remo, lembro-me com nostalgia dos nossos antepassados que em 1558 ali acostaram e durante quinze anos hastearam a nossa bandeira. Para quem vinha de semanas de cansaço, ferocidade metereológica e terrivéis doenças... encontrar ali aquele oásis! O que não terá sido...!

Eis que o sol começa a despedir-se e no céu logo aparece uma deliciosa mescla azul, laranja e pastel, num "degradé" de fim de tarde, que bem metaforiza a mistura indo-asiática e europeia que se nos revela em cada canto e em cada pessoa. E os raios luminosos vão-se dissipando, marcando o contorno das palmeiras, que se recortam na amplitude da praia. Enquanto bebo um cocktail e ouço um relaxante jazz, junto da pisicna, olho o horizonte e vejo que arranjei uma nova companhia, que em toda a sua plenitude se revela, e sobe, sobe, sobe... até que a noite maldiviense esteja decentemente iluminada. Até a lua é perfeita nestas lindas pérolas deixadas cair ao mar. É com resistência que tenho de abandonar as estrelas e ir repousar.
Mas não vou triste, antes com um sorriso, só de me lembrar de quão maravilhoso foi este dia nas Maldivas, mas, principalmente, por pensar que amanhã, quando acordar e abrir a porta, tudo estará ali...novamente...ao meu alcance...

Comentários

Anónimo disse…
mesmo sem ainda ter realizado este sonho, consigo compreender cada sentimento descrito, e as sensações maravilhosas de acordar no paraiso!!

Mensagens populares deste blogue

À terceira é de vez!!!

Como tenho muita lata... este post é na linha de dois recentes... (um deles mesmo recentíssimo, o meu último) e trata da adaptação, não de séries (porque somos muito oranginais por estas bandas e isso depois na verdade tornar-se-ia repetitivo... quer dizer... até parece que assim não...), mas sim de filmes estrangeiros, para português. São novidades muito secretas e portanto só espero que tenham bastante cuidado na divulgação das mesmas (ao dizer isto espero que as publicitem, bem como a vinda aqui ao meu "little corner", numa jogada minha à laia d'"o fruto proibido é o mais desejado"). - Tó Pegane : história de um filho de uma ex-emigrante "na França" (daí a sempre típica mescla do nome António com o Pegane do francês com quem a senhora se casou). O rapaz entra para a Força Aérea, e depois há para lá umas intrigas. Ah! Na cena mais espectacular do filme, Tó Pegan faz um cozido à portuguesa, utilizando para aquecimento dos ingredientes a barriga

na moda

Está na moda escrever sobre o amor. O truque é pintar o dito de lugares comuns e adornar o produto final com duas ou três asneiras das pesadas para emanar pseudo-rebeldia. O conjunto de palavras é tão bonito e tem uma força tão positiva que o que está mesmo a pedir é para ser posto num rectângulo, acompanhado de uma imagem do pôr-do-sol/paisagem verdejante/gatinhos/silhueta de um ou dois corpos (riscar o que não interessa) e feito, está pronto a sair do forno para esse sufrágio universal que são as redes sociais. Está na moda gostar dessa visão do amor. Que tenta copiar alguns traços dos mestres mas que os copia mal e porcamente, borra a tinta toda, mas encontra destinatários com a visão tão baça que nem dão por isso. Dantes havia o condão de ficar preso às letras do Shakespeare, do James, do Cummings e de tantos outros. Todos eles vieram por aí fora, ainda há bem pouco tempo dava para jogar à macaca com o Cortázar, mas está tudo a trocar a macaca por meia dúzia de macacos, que ap

Reset

00:00 Os números piscavam a vermelho no fundo escuro. O escuro era da noite por fora, por dentro a culpa não era da noite. Ou então era de noite também por dentro. Dentro da cabeça uma pulsação contínua, um incessante martelar, uma inequívoca prova de vida e um considerável incentivo à morte. O dia rodava dentro da caixa craniana a uma velocidade superior àquela com que camisolas, calças e roupa interior dançam dentro da máquina de lavar roupa. As ideias misturavam-se de tal modo que apenas se conseguia lembrar da receita de um bolo. As preocupações de ontem a fazer de farinha, o que de novo aconteceu nesse dia mascarado de fermento, todos os planos para amanhã e depois com cara de ovos acabados de deslizar casca fora. E a vida, essa batedeira eléctrica de último modelo, a tratar de misturar tudo com a pressa de quem tem fome e gulodice. Sorriu no escuro e sentiu felicidade por sentir os músculos da face a relaxar. Uma das melhores coisas que o sorriso tem é a capacidade de pôr as